3/13/2007
Da super de janeiro
E se... o Ocidente tivesse deixado o islã em paz?
Por Katia Abreu

Sem as fronteiras forjadas para dividir os territórios do norte da África (no fim do século 19) e do Oriente Médio (após a 1ª Guerra Mundial) entre as potências européias, o mundo islâmico hoje teria grandes chances de ser uma região menos tumultuada. Ao impor a um povo uma lógica econômica e cultural completamente diferente da sua, os ocidentais acirraram rivalidades entre povos que antes conviviam em paz e transformaram-nas em conflitos.

O imperialismo europeu - e, posteriormente, o americano - também gerou um sentimento de repulsa ao "invasor", que tem sua face mais visível nos grupos terroristas. Mas esse sentimento aparece também em outros níveis na população islâmica. "Hoje diversos países árabes sofrem uma regressão na religiosidade. É uma maneira de afirmar a identidade, buscando valores tradicionais", diz a historiadora da USP Arlene Clemesha, diretora do Instituto de Cultura Árabe.

Para o documentarista iraniano Maksoud Bakshi, essa tendência ao fechamento sinaliza um retrocesso na trajetória de povos que historicamente mantiveram relações de troca, comercial e cultural, com estrangeiros. "Nós tivemos uma civilização brilhante no passado, mas as pessoas não conhecem suas raízes", diz. "Há valores islâmicos que poderiam ser bons para todo o mundo, sem revestimento ideológico que permita a dominação e exploração", afirma Arlene. "O princípio do islã puro é de que estamos no mundo para oferecer."

- O Marrocos dominaria as terras do atual Saara Ocidental - território de nômades que foi incorporado à Espanha. A Mauritânia seria duas: uma branca, ao norte, e uma negra, ao sul.

- Síria, Líbano, Israel e Jordânia provavelmente formariam um só Estado, a "Grande Síria", caso França e Inglaterra não se metessem lá. Isso porque a região já hospedava um movimento nacionalista árabe contra a dominação cultural turca, que surgiu no final do século 19.

- Sem a mão pesada dos ingleses, a Mesopotâmia seria hoje um território que uniria grande parte do Iraque e o Kuwait. No norte do Iraque teríamos o Curdistão, região historicamente ocupada pelos curdos que alcançaria autonomia com a derrocada do Império Turco.

- O Egito, que já era um Estado consolidado e forte, provavelmente reincorporaria o Sudão, e teria grande chance de ser uma potência regional, ao lado da Grande Síria, onde estão as cidades sagradas.

- Emirados Arabes, Iêmen, Omã e Catar manteriam uma certa unidade, na península Arábica, provavelmente num sistema federativo, conservando a autonomia dos clãs.

O ISLÃ DIFERENTE
Mapa, economia e sociedade do mundo muçulmano mudariam radicalmente

PETRÓLEO
A presença dos europeus no Oriente Médio apressou a exploração do petróleo. Eles trouxeram, além da vontade de controlar o acesso ao combustível, o conhecimento necessário para isso. Os árabes e os persas teriam demorado mais para aprender as técnicas para extrair a riqueza que há em suas terras. Possivelmente, isso promoveria o uso de fontes alternativas como o carvão ou bioderivados e desaceleraria o desenvolvimento econômico mundial.

QUESTÃO JUDAICA
Os judeus continuariam vivendo na região, sem entrar em grandes conflitos com as populações islâmicas. Só que dificilmente existiria Israel. Isso porque o poder econômico dos judeus seria consideravelmente menor - e encontraria rivais de peso nos árabes independentes. Além disso, a idéia da criação de um Estado judeu talvez não saísse do papel sem o incentivo dos europeus ao projeto sionista (Israel foi criado em terras que eram governadas pela Coroa britânica).

LIBERDADES CIVIS
Como as elites da região enviavam seus filhos para estudar em universidades da Europa, haveria uma adaptação gradual da sociedade islâmica, como aconteceu com a japonesa, na qual tradição e modernidade conviveriam sem sobreposição de uma a outra. Grupos étnicos e religiosos viveriam em simbiose, numa sociedade multicultural - característica histórica das regiões ocupadas por árabes.

SISTEMA POLÍTICO
Como a legitimidade do islã vem de Deus, seu governo não se separaria facilmente da religião. Uma democracia nos moldes ocidentais seria muito improvável. Mas, aos poucos, se desenvolveria um sistema de leis híbrido, onde conviveriam preceitos do islã e do direito moderno - até pela necessidade de padrões de equivalência com o Ocidente para relações comerciais e diplomáticas. "Se introduziriam padrões de igualdade na educação, nas leis e no voto", diz Arlene.

ECONOMIA
A riqueza gerada pela extração dopetróleo certamente colocaria o mundo islâmico numa posição mais confortável. Mas é difícil prever se o desenvolvimento e crescimento econômico desses países se refletiria em boa distribuição da renda ou se a riqueza ficaria concentrada apenas na mão das elites. O cientista político Samuel Feldberg supõe que "haveria uma dependência enorme do petróleo, sem incentivo para o desenvolvimento de uma economia independente".

 
postado por Glauber henringer faller da silva ás 5:42 PM | Permalink |


2 Comentários:


  • At terça-feira, março 13, 2007 10:27:00 PM, Blogger Nephita

    Discordo do artigo. Se não houvesse o domínio ocidental, o oriente médio ainda seria um amontoado de distritos feudais eternamente em guerra entre sí.

    O petróleo ainda seria extraído, mas em condições diferentes, eu concordo, o difícil é dizer como.

    Quanto a guerras e a divisão de fronteiras, é histórico que aquelas nações sempre foram um amontoado de povos que viviam eternamente em guerra. Os limites de países estabelecidos pelos europeus somente refleriram uma situação pré-existente.

    Imagino que sem a tutela européia, a região estaria ainda pior do que é hoje.

    Quanto ao povo judeu, a autora dá a entender que não seriam tão ricos como são, caso não houvessem ocupado aquele lugar, esquecendo-se que a maior riqueza de israel provém dos contatos de seu povo no exterior e que esta riqueza, sim, causou o estabelecimento do país israel.

    Note que os países no entorno de israel, no mesmo tempo de existência, não conseguiram sair da miséria. Uma simples consulta ao Google Earth permite ver a diferença das verdejantes fazendas irrigadas em israel e das favelas do lado árabe. Esta não é a diferença entre israel e os países árabes, esta é a diferença de uma democracia real e um grupo de ditaduras.

    Bom exemplo dessa situação é a faixa de gaza, que uma vez que foi deixada pelos colonos judeus e entregue à gestão dos próprios palestinos, praticamente entrou em guerra civil. Ao sair das colonias, os judeus destruíram suas casas e sinagogas, e deixaram os equipamentos no campo. Pude ver um equipamento de irrigação de centenas de milhares de dólares deixado pelos judeus em perfeitas condições, completamente abandonado assim como uma lavoura que poderia sustentar o povo por muito tempo, povo esse que agora mendiga ajuda internacional. Pergunto onde estão os petrodólares de seus irmãos árabes?

    A autora segue a cartilha da mídia estatal do oriente médio (existe mídia livre no oriente médio?) prega que todos os problemas deles são causados pelo ocidente. É mentira. Sim, o ocidente explorou por décadas um povo que já vinha sendo explorado por seus próprios déspotas há séculos. Mas não foi o causador da situação.

    É fácil atribuir o problema aos outros. Difícil é admitir que o problema histórico do oriente médio são seus ditadores, sejam leigos ou religiosos e a falta de educação, que, quando é minimamente fornecida está permeada de dogmas e de orientação religiosa. Ao contrário do que ela possa sugerir, os atuais homens bomba são uma invenção moderna apenas em seu modo de agir, sendo que suicidas religiosos sempre existiram naquela cultura.

    Ao menos aqui no Brasil não temos os suicidas, porque os déspotas e a falta de educação abunda há gerações.

    Grato,

     
  • At quarta-feira, março 14, 2007 5:23:00 PM, Blogger Glauber henringer faller da silva

    é